quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Discernimento

Discernimento

Publicado no Jornal da Paraíba em 07 de outubro de 2009.

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos; outras há, que gargalham de alegria por saber que os espinhos têm rosas”. Confúcio. Estamos todos abismados com os recentes acontecimentos, é cartão vermelho no Senado, arquivamentos, pedidos de demissões, descobertas de riquezas, desenvolvimento econômico, etc., temos que chorar ou dar gargalhadas? Desde meus 12 anos estou dando novas respostas a esta pergunta.

A partir da minha adolescência, quando vislumbrei a filosofia yin - yang e esta frase, passei a verificar a dualidade da existência. Tinha consciência da reciprocidade, mas por causa do apelo de Confúcio exaltando os espinhos das rosas e o imediatismo adolescente, tomei logo o partido dos que choram os espinhos, era esse lado o virtuoso. No ápice de minha adolescência, diante do atual cenário brasileiro, xingaria bastante a política e os corruptos, compreendia que esse lado podre tinha que existir, mas não admitiria tanta complacência. Essa batalha me rendeu muitas vitórias, mas sempre faltava alguma coisa.

Na minha juventude, em meio aos estudos de graduação e muitas reflexões, me deparei com outra visão, a descoberta de que os espinhos têm rosas. Ela veio como o sol em um dia chuvoso, revi todos os meus conceitos e convicções e comecei a trabalhar nesta perspectiva.

Deixei o imediatismo de lado e passei a analisar as coisas, pesar e medir todas as decisões, avaliar, testar todas as alternativas, inventar novos procedimentos, pois tinha uma meta, encontrar a rosa nos espinhos. No ápice de minha juventude, diante do atual cenário brasileiro, iria analisar, ver as virtudes de todos os envolvidos, procuraria ver a importância destes personagens em cada caso, até que as rosas desabrochassem. Essa batalha me rendeu muitas frustrações, mas tive momentos de extrema felicidade.

Não sou mais adolescente, ao ver uma rosa não agarrarei de imediato, pois sei que depois irei chorar seus espinhos, também não sou um jovem, não vou ficar procurando rosas em todos os talos, pois sei que muitos terão apenas espinhos. Nossa nova democracia também está passando por esta crise de identidade, como ela é quase da minha idade, sofremos juntos estas transições, no auge de nossa adolescência, fomos pintados pedir o impedimento de um presidente que a pouco julgamos perfeito e de tudo que é sujo na política, mas ficou apenas no presidente. No auge de nossa juventude nos orgulhamos pelas conquistas do excepcional operário a frente deste país e ficamos insistindo para que o resto tenha a mesma competência, mas poucos aderiram a causa.

As duas faces apareceram e nenhuma nos completou, seria o fim? Se esta filosofia fosse estática sim, mas vi que o mais importante é que ela é intrínseca e dinâmica, e sua força motriz é o discernimento. Quanto menos discernimento, menos ela gira e estamos sujeitos a opiniões e conseqüentemente regimes totalitários. Nossa história mostra os generais que não choravam os espinhos, pois não os reconheciam e um magnífico Getúlio, que se achava uma rosa entre muitos espinhos desnecessários. Renovei minha esperança no futuro, vi que a roda está mais dinâmica, então estamos agindo com mais discernimento.

Professor Suzélio Anibal Leonardo.

sábado, 27 de junho de 2009

O gargalho da Língua Portuguesa

Minha relação com a Língua Portuguesa é permeada de amor e ódio, digna de romances como Romeu e Julieta e outros. Desde que me lembro, sempre gostei de imaginar o que era lido para mim e posteriormente o que eu lia, as imagens surgiam cristalinas a minha frente, cheias de encantos, sons, cores, etc. Interessava-me por tudo que podia ser transformado em cenas, já a regra não me interessava, pois não conseguia imaginar separadamente sílabas, sujeitos, predicados, verbos, etc. Esse sempre foi meu calcanhar de Aquiles.

A mais de um ano me aventuro na escrita de alguns textos para publicação e atrevido como sempre fui, decidi falar sobre os grandes temas: educação, cidadania, democracia, etc., na esperança de ser lido e discutido, objetivo principal de todo escritor.

Num destes textos discorri sobre o “GARGALHO” da educação brasileira, comparando com um efeito semelhante que acontece com computadores. Há dias atrás, ao ler um comunicado do Ministério da Educação, vi pela primeira vez, se não me falhe a memória, o governo se pronunciar para acabar com o “GARGALO” da educação brasileira. Veio-me a alegria e a tristeza, vi que minhas palavras poderiam ter ecoado, levando com elas minhas virtudes e fraquezas.

Revoltado por cometer um erro de grafia tão infantil culpei minha cultura, pois desde que me conheço como gente falo gargalho e não gargalo, mas isto não é desculpa, pois falei com propriedade de um fenômeno que estudei em um dos mais renomados livros de informática, escrito por Grabriel Torres e o termo gargalo estava corretíssimo. Passei a culpar meus procedimentos de escritas, mas como foi recomendado por um conceituado escritor, reli e refiz umas 40 vezes este texto antes de enviar para a redação e reli mais umas 20 vezes depois de publicado e não atinei para tamanha desatenção.

Por fim me conformei, pois ao nascer nos casamos com nossa língua e como bem aconselha a Bíblia aos casamentos conflituosos, não podemos segurar o óleo com as mãos.

Também não fui o primeiro nem serei o último, esses dias pude presenciar uma gafe incrível em uma superprodução do cinema mundial. No final de um filme, ao apagar um texto, o ator aperta a tecla delete e o cursor em destaque apaga da direita para a esquerda, sabemos que o delete apaga da esquerda para a direita.

Tem outra pior ainda, recentemente o congresso promulgou e o governo regulamentou uma emenda à Constituição Federal e antes mesmo de entrar em vigor completamente ela sofre uma ação direta por inconstitucionalidade. Como pode uma emenda constitucional ser inconstitucional?

Sei que tudo isto foi motivo de gargalho, os conhecedores do vocabulário não perdoam gafes deste tipo, a regra é clara! Nem tanto, recentemente vi um dos responsáveis pelo novo vocabulário brasileiro se explicar porque “reescrever” não foi colocado com hífen e a explicação não me convenceu.

Se a inspiração aparecer continuarei escrevendo, ser publicado, lido e discutido já é outra história. Peço apenas desculpas com esta modesta errata por este e por futuros equívocos que eu cometa.

Professor Suzélio Anibal Leonardo